segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Não Feito

Todas as músicas que eu queria ter feito,
todas as frases que queria ter escrito,
todas as pessoas que quero abraçar,
disparando em dó um poema da falta,
lembrando o quê eu queria falar
se já não tivesse sido dito
e todas as bocas que quis beijar,
desse jeito tão aflito,
que não sei mais se grito
ou se fico
esperando passar.

Ausência


A angústia do espaço vazio que insisto em achar no copo meio cheio e colorido com o qual desfilo por aí ri de volta em todas as noites frias dessa cidade de vidro.
Rir sozinha olhando para baixo enquanto seguro minha própria mão deve parecer bonito, mas a beleza da ausência é a única que vale a pena ser notada.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Laranja

Vejo laranja em todos os cantos e lembro
da tarde fria insistindo em me olhar.
Do café, a fumaça
Do meu rosto, o sorriso.
Tudo se fazia quente embaixo do seu edredom.
Mas espera, já é outubro
e quase nada restou.
Engole seco,
isso já passou.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

pseudo-cult

Poderia falar sobre os céus de Van Gogh
e as águas de Monet
só pra te comer.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Egoísmo

Se não basta dizer tudo que digo quando calo ou finjo rir, talvez não importe mais.

Enquanto todos os sinais divinos ou demonstrações do destino pairam sobre sua aura púrpura e me contam histórias de castelos habitados por fantasmas, eu só quero abraçar seu medo pra ver se encaixa com o meu.

Fingindo não saber do seu poder de pedir calminho tudo que eu não quero fazer, finjo que ainda acredito. E, então, fico. Fico e me debato frente todas as verdades inventadas que me aparecem implorando para serem confirmadas, ao tempo em que penso em quão agradável é o som da sua risada que estala e me cala no momento em que tento imaginar que é só pra mim.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Talvez

Enquanto eu penso no quanto poderia viver, esqueço de pensar se querem viver comigo. E, por mais que eu tente disfarçar, todos sabem que não passo de um sonha dor. E em todos eles sinto a mesma falta que me faz oco ecoando tanto barulho. Porque além de nada ser sem amar, eu nada sou sem amor. E essa falta em mim que se faz em você vai te encher e você vai ficar tão cheia de vazio quanto eu e, talvez, assim nos sentiremos plenos e, talvez, assim seus vazios tão escondidos preencham os meus e talvez seremos tão leves que poderemos flutuar por aí. Então, talvez você segure a minha mão, talvez não.

domingo, 1 de maio de 2011

Eu queria amar, ela queria mais. E assim passamos todos os dias planejando nosso passado perfeito com as histórias de sonhos e lembranças de contos de fada que nunca aconteceram e eu sorria sem fazer esforço dessa força misteriosa tão clara que nos fez brilhantes. Mas eu queria amar, ela queria a mais. E a mais foi tudo que eu pude dar, e pra trás ficou tudo que eu quis passar mas que devia ter trancado em mim tão profundo que você procurasse pelas minhas entranhas e, com sorte, perdesse um pedaço por lá. E os pedaços que vou catando são difíceis de separar de todos os outros que esbarro por aí e, por aqui, eu já me perdi. Mas a lembrança do futuro presente mal querido me faz imaginar o instante em que eu queria amar e ela também.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

E você vai e volta e fica e espera. Espera passar o que nem foi e nem vai. Espera em pé quem nem saiu de casa. Deita pra ver quem não consegue falar.

E você liga liga liga tu tu tu tum tum e ninguém ouve suspiro e ninguém ouve tosse e ninguém ouve

silêncio.

Ahhhh, grita o som turvo e falho das minhas palavras. Urrr, fazem meus dedos sangrando azul. Riscam paredes, ruas, cidades. Pudera riscar o mundo e não escrever mais.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A do

Salgado o vento de hoje cedo,
O bolo da minha mãe,
A água no meu rosto.

Pesado teu chapéu
que carrego nos braços.
Prezados seus traços
que não consigo mais acompanhar.
Pensado
o dia em que te vi e virei o rosto e depois te vi de novo e você sorriu.

Sonhados nossos sonhos,
Sambados nossos gritos,
Roubados: eu, você e quase todo o mundo como a gente conhece.

Passado
que espera o atrasado
sorriso do que há por vir
ou por ti.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Meu Avô

Meu avô,
que parecia com Drummond,
lia Machado
e tinha alma de Caio,
mas gostava mesmo era de inglês.
E de relógios.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Piano de Cauda

Baseado na música “Pianinho” - Esteban



“Eu vou tentar mais uma vez”, dizia o cantor no meu celular. Até quando dura essa persistência, essa esperança?

Não importa o tempo que passe, é sempre a mesma coisa: corações destroçados, mãos abandonadas, abraços solitários, planos arruinados.

Quantas vezes será preciso passar pelo “mais uma vez”? Não sou tão criativa assim. “Cadê? Cadê?” a voz não para de me perguntar. Digo que vi uma vez, e tentei explicar – não deu muito certo.

O cara no meu ouvido continua, perguntando “quem é você que não me vê? Cadê você que eu não vejo?”

Devia ter me lembrado que olhar pro Sol por muito tempo nos deixa cegos. Devia ter se lembrado que ninguém olha pro Sol a vida inteira. Aliás, preferimos dias nublados, ainda mais claros.

Então, quando a clare-cegueira passar, melhor olhar pro lado do que pra cima e torcer para que a claridade ajude a achar o caminho.

Enquanto isso, vou escondendo que “sozinho eu não sei aonde ir”

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011


Quando te abraço, uma força me impele a puxar o tanto de ar que eu puder. É como se, junto com ele, respirasse você até me encher e, assim, me sentisse completa.