segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Guardei Todo Meu amor

Guardei meu amor e o deixei ali dentro, inchando, inchando, e saindo a cada toque que ela dava na minha mão, na angústia comedida da espera pelo que iria – sabia que sim – acontecer. 

Ela escolheu a música mais lenta e me chamou, rindo daquele jeito que não significava nada. Ali, com uma desculpa para estar cada vez mais perto do seu corpo, sentia aquele amor evaporando no suor enquanto rodávamos pelo salão. Esperava que a proximidade de nossos rostos transmitisse a ela todas as vontades que não podiam ser ditas. Estava tão imersa naquele seu balé desritmado que nem percebi o silêncio. 

Sua mão soltou minha cintura e meus olhos escreveram nos seus a história da transferência. Ela achou por melhor guardar e distribuir aos poucos, em cada abraço monitorado que me dava em meio àquelas testemunhas fatais de um crime ocular.

Ficava cada vez mais doído a soltar. Esperava que nossos peitos, tão perfeitamente encaixados, inventassem uma linguagem própria capaz de decretar fim à solidão que há tanto a incomodava. Enquanto não conseguiam, guardavam aquele amor que ia inchando, inchando, pronto para implodir na saliva da minha língua quando o silêncio não fosse mais regra. Enquanto isso, mantinha-me no direito de permanecer amada.