Guardei meu amor e o deixei
ali dentro, inchando, inchando, e saindo a cada toque que ela dava na minha
mão, na angústia comedida da espera pelo que iria – sabia que sim – acontecer.
Ela escolheu a música mais lenta e me chamou, rindo daquele jeito que não
significava nada. Ali, com uma desculpa para estar cada vez mais perto do seu
corpo, sentia aquele amor evaporando no suor enquanto rodávamos pelo salão.
Esperava que a proximidade de nossos rostos transmitisse a ela todas as
vontades que não podiam ser ditas. Estava tão imersa naquele seu balé
desritmado que nem percebi o silêncio.
Sua mão soltou minha cintura e meus
olhos escreveram nos seus a história da transferência. Ela achou por melhor
guardar e distribuir aos poucos, em cada abraço monitorado que me dava em meio
àquelas testemunhas fatais de um crime ocular.
Ficava cada vez mais doído a
soltar. Esperava que nossos peitos, tão perfeitamente encaixados, inventassem
uma linguagem própria capaz de decretar fim à solidão que há tanto a
incomodava. Enquanto não conseguiam, guardavam aquele amor que ia inchando,
inchando, pronto para implodir na saliva da minha língua quando o silêncio não
fosse mais regra. Enquanto isso, mantinha-me no direito de permanecer amada.
Sufocante...
ResponderExcluirComo deve ser
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