sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Parei

Enterro as mãos na terra. Nada. Limpo o laranja que ficou e tudo continua igual. Se pudesse pelo menos voltar ao momento onde tudo fazia sentido e o coração era um só inteirinho e cheio de verdades e certezas. Pra onde fui? Fui parar? Parei. Me deixei em algum canto daquela cidadezinha calorenta onde as mãos se faziam em laços de presente. Presente que lembra do passado que não existe mais. Se estou lá, onde fui parar? Fui parar? Parei.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Só eu

No ruído do ventilador é quando meu peito se faz mais meu. Todas as possibilidades me esmagam e, no escuro, a falta me faz mais eu. Queria ser Lúcia, Cristina e Margarida, mas por enquanto me contento em ser o quê sou. Insuficiente e insegura, seguro nas mãos que não estão por perto. Vazio.

Recorro aos ensinamentos da psicologia, mas acabo ligando a televisão. Com o quarto cheio de barulho mudo, minhas paranoias ocupam todos os cantos,

Escrever pra melhorar, escrever pra me ocupar, escrever pra acalmar, escrever.

Me ocupo, me encho até doer. Junto com mais uns verdes e dourados que estão por aí, só pra ver a consistência. Amasso tudo e engulo na esperança de que me façam vomitar paixões.


Chega pra lá, não me cabe mais aqui. Rasgo, sem medo. Implodo no que há de mais belo. Encho, empurro paredes, quebro vidros. Tô viva. Tô aqui. Sou eu. Só eu.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Períodos Curtos

- “Pense nos períodos curtos. Eles funcionam. Toda vez”. Disparava com a frieza de quem não sabia o eco que aquilo fazia dentro de mim. Períodos curtos foi tudo o que tivemos. E ainda é tudo que restou. De todos os anos, nossos pedaços ainda estão largados por aí, em mim, nela, nas pessoas ao redor. Nessa cidade que não nos deixa em paz. A fumaça do café vai esfriando enquanto penso em como atingi-la de algum modo que a faça se sentir como eu, enterrada viva. O sufoco que sinto me faz sentir cada vez mais morta, lutando para conseguir qualquer lufada de ar que a traga de volta. – “Respira” – ela diz. Respiro.


Respiro e tento mandá-la embora o mais rápido possível, torcendo para que ela não perceba minha luta solitária. Ela ri. Ri demais. Eu absorvo aquela claridade até desaparecer. Sumo de mim. Ela não. – “Quando é que você vai começar esse livro? Gosto tanto dos teus textos” - Todos pra ela. Todos malditos textos para ela - "Mais tarde" - eu digo, e escondo todo o resto.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vermelho

Claro,
a chance que se faz nas entrelinhas se perde no
rosto

Amarelo
No calor da reta que me entorta até chegar mais
perto

Cinza
os lados do quadrado refletindo seu disfarce bem em cima
de mim

Laranja.
Na velocidade do nosso círculo me afogo entre teus
problemas,

Azul
os olhares oblíquos se encontram com as chuvas
que vêm

Preto
e o vinho nas curvas incapazes de
seguir nos

Escuros
brinco de não ver as paralelas que nos
perpassam,

Branco
nossas linhas opostas que se cruzam e
se passam,

Verdes
os ângulos nos engolem
e se traçam de


Vermelho.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

HipoCrises

Do espaço que em mim me cabe, pouco é seu. Minha angústia ocupa todo o resto. Não tenho mais nós aos quais me agarrar, não tenho aonde chegar. Não tenho mais eu.

Mas isso, não te obrigo a entender. Sorrio de volta como se lá dentro fosse bonito, na certeza de que te convenço. Caio fundo na lama dos seus olhos esperando que no final eles não me revelem nada além de eu mesma. 

Se te abraço, é pra roubar teu calor, te fazendo acreditar em minhas meias palavras. Engulo hipocrisia direto da sua boca e cuspo pelo ouvido, bem na sua cara, enquanto você sorri. Então, te pego pela mão e levo pra casa, te dou um beijo na testa e te coloco pra dormir.