quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Tática de Guerra


Na noite quente de um fevereiro sub-tropical, ela apareceu. Sutil como sempre, mas não por isso menos perturbadora. Entrou pela porta dos fundos e se escondeu embaixo dos meus lençóis. A visão de seu corpo ali deitado, imóvel, não me assustou. Acostumei-me com suas aparições noturnas. Enquanto a observava, só imaginava o impacto que isto teria pela manhã, quando ela estiver ido.

Deitei-me ao seu lado e ela se multiplicou. Eram agora três, cercando minha angústia estampada. Falavam sobre assuntos que eu não compreendia enquanto a única coisa que me importava era a proximidade do seu corpo, a pouco mais de um palmo de distância. As luzes se apagaram em uma força do pensamento e a distorção sumiu. Estávamos agora só eu e ela, cobertas até a cabeça em uma tentativa fracassada de abafar os pensamentos. No silêncio inédito, me permiti pela primeira vez olhar em seus olhos sem medo que os meus denunciassem minhas intenções. Ela percorreu o caminho curto até minha boca e me deu um beijo rápido e caloroso, selando nosso pacto invisível. Tentei retribuir com um beijo silencioso em seu rosto, mas não a alcancei da primeira vez. Encorajada por sua aproximação espontânea, me lancei de novo em sua direção, agora acertando de leve sua bochecha. Ela não achou suficiente, não aceitava metades. Com seu poder de me persuadir com o olhar, me fez dizer o quanto a queria. Seu sorriso se abriu como se abre uma cortina pela manhã, deixando toda aquela luz penetrar em mim. Nunca vira seu sorriso bonito assim com nenhuma outra pessoa. Pensei, pelos dois minutos restantes, que poderia fazê-la feliz. Ela me abraçou e dormimos, com a certeza que poucos encontram nessa vida de estarmos exatamente onde deveríamos estar. Aí então abri os olhos e já era de manhã.