terça-feira, 23 de março de 2010

Bolo de Chocolate


Procuro, em português, algo que possa me inspirar
Devo ter esquecido de respirar
E é melhor acreditar assim
Já que não sei o que me faz querer não continuar.

Aquele texto bonito que escrevi e nunca mais achei,
Aquele aroma que eu nunca te dei,
Aquele olhar ao qual me rendi e vi sumir
O mesmo que hoje ainda procuro, sem esperança de voltar a achar.

E exatamente nesse momento,
Uma mulher, com os seus 50 anos,
Passa por mim fumando seu cigarro
E me olha como se duvidasse que sou capaz
Como se soubesse que eu sempre desisto na primeira dificuldade,
Mas, dessa vez, eles vão estar errados
Eles tem que estar errados
Eu que jurei para minha mesma nunca fazer o que o mundo espera de mim,
Fico esperando pelo mundo.

Mas não hoje, hoje não!

Hoje eu quero história, quero festa, quero liberdade, quero crescer, amar, sentir, chorar, errar e voltar atrás, decepcionar e pedir perdão, aproveitar minha solidão, caminhar na praia num dia nublado, conversar com um velhinho no ponto de ônibus, sorrir ao ouvir uma música à caminho da faculdade, despedidas sem saudade, bolo de chocolate.

domingo, 21 de março de 2010

Do Pertencimento


Num canto com um tom de velhice, ela anda tão apressada que você não desconfiaria que carrega o sobrepeso do mundo na cabeça. Tentando equilibrar-se, porém sem nenhum esforço aparente para não cair.


Além do mais, não é daquele tipo que você pode fingir que não viu passar. Você a viu. Ela e toda a sua bagagem invisível.


Tirando um cigarro do bolso, ela mostra a razão de sua pressa: “área de fumantes à direita”.


No cantinho do canto não mais tão velho, traga todos os seus sentimentos junto com a fumaça.


Seguia com seu plano - afinal, todos deveriam saber – porém não esperava ser traída pelo próprio eu quando, no cantinho do olho esquerdo, apresentou-se um tracinho de felicidade, ao que logo puxou os óculos não tão escuros assim.


Mas bagagens só servem para um coisa, não é?! Levantou-se rapidamente, antes que mais alguém percebesse que ela sente, e continuou.

quinta-feira, 18 de março de 2010

... Se enrolar


Essa é a história de uma menina que não sabe o que fazer. Seus adjetivos preferidos são: incerta, confusa, quieta, talvez observadora.

Não gosta de muito do que faz, então tenta fazer muita coisa. Embola histórias, entrelaça amigos, todos e tudo fazem parte da sua rede, seu universo. E nessa de enrolar, acabou se enrolando. Se perde entre as teias que ela mesma teceu.

Hora é a caça, hora é o caçador. Aliás, deveria ser sempre a caçadora, mas, por não ser boa com escolhas, as vezes finge – e prefere assim – ser a caça. Ser a caça é muito mais fácil, você só tem que fugir, e se te perguntarem pra onde ta indo, é só dizer que tão te perseguindo. Você não escolhe aonde ir, apenas sabe aonde não deve.

E escolher é muito mais difícil, envolve responsabilidades, e mesmo que você tenha – ou pense ter – ela não se aplica à esse caso.

E aí você-ela fica preso(a) na história que você mesmo criou, sem saber se é o ator principal, o coadjuvante, a mãe da mocinha, o operador de luz, a platéia ou o cara da bilheteria, vendendo ingressos para a exibição da “Sua Vida”, peça de nem tão grande importância assim e nem tão interessante afinal.

terça-feira, 16 de março de 2010

...(Se) Complicar


E eu não sei o que fazer. Mas isso já é rotina.

Horas e cigarros desperdiçados nessa tentativa mal-sucedida de entender como funciona. Ou de fugir da compreensão já atingida.

Será isso uma compulsão megalomaníaca? Ou só algo necessário para a auto-afirmação? O que detesto assumir, é que não há como fugir de si mesmo. Aliás, tento até acreditar que a culpa não é minha. Mas não sou tão inocente assim, não mais. Não posso ser. Não devo ser.

O que não entendo é essa necessidade de saber o que os outros pensam, o que sentem, quando na verdade, eu sei que isso seria o fim.

E esse bando de pronomes pessoais, o que fazem por aqui? Tanta volta, tanta história, tantas divagações no meio do caminho, quando eu – de novo – só quero chegar aos dois mais importantes: eu e você. Mas a distância entre eles é repleta de outros: ele, ela, ela, ela, eles, vocês. Nós. E não só o pronome. Nós de nó mesmo, aquele que deveria ficar só na corda, e não na minha cabeça, nas nossas mãos.

Vai ver é só um motivo pra fazer meu coração não cair na rotina, pra que não se acostume à esse ritmo preguiçoso.

Já os suspiros? Ah, esses sempre me acompanharam. E eu não ligo de dar o pouco de fôlego que me resta pra você.