quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Leonismo

Quero escrever sem parar. Botar as folhas na máquina e escrever sem parar. Quero fumar todos os meus cigarros, passando o cheiro para os meus cabelos, a parede, o livro. Quero meu livro com cheiro de cigarro. E a capa manchada de cerveja. Quero ser lida no bar; no quarto sujo; durante o sexo. Antes e depois. Quero marcar a pele e a alma, quero arder os olhos, sangrar as orelhas. Quero estar nas bocas de batom barato, nos solados gastos. Quero que minhas páginas enrolem baseados. Quero incomodar soprando nas orelhas: “está tudo bem, o mundo é assim mesmo”. Quero ser marco de razão, mártir de uma revolução. Quero ouvir pessoas correndo e gritando. Quero sair em uma matéria de jornal e ser usada por mendigos em noites frias. Quero estar em xícaras de café, diluída na fumaça das conversas. Quero ser citada em músicas de hardcore, enquanto as pessoas batem uma nas outras consentidamente. Quero assistir ao fim do mundo, escrevendo sem parar. Botando folhas na máquina e escrevendo sem parar. Fumando todos os meus cigarros e escrevendo sem parar.
E aquele horror ao saber que chegara seu fim, foi a coisa mais profunda que já sentiu. Chorou, não pela morte, mas pela vida que não viveu.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Burn Burn Burn

Sobre o frio, não me interesso. Se não queimam como eu queimo encarando seus olhos enquanto desvio a atenção dos meus em direção ao chão ou qualquer coisa como a fumaça do meu cigarro ou a parede daquele quarto reluzente onde pela primeira vez vi seus olhos fechados, não me interesso. Do meu interesse finjo que não me interesso enquanto você se interessa por tudo menos por mim. Se interessante fosse não ter você e seguir seguindo sua alma com toque de superioridade e soberba e sofisticação que envolve e sufoca e leva todo o resto até sua boca ou o desejo dela, eu o faria. Se em meus sonhos não me perseguisse como mãe filha que mostra e desmostra e me mostra o quê quero sem falar ou fazer sorrindo pra mim e insinuando bem de perto que me quer como te quero assim bem quente e quentinha na sala no quarto no chão na escada na janela na cama no sofá na cadeira no chuveiro no fogão no tanque na mesa na cômoda no armário na pia enfim, não precisaria estar aqui escrevendo sem parar sem ponto ou inspiração como o contínuo que não é essa história sem relação cheia de interrogação exclamação mas pouca ação.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Sem meios de voltar ao começo, sem vontade de fazer diferente. Cansada, só cansada. Pego o último rastro e me guio até lá. Vocês vão entender. Precisam. Preciso.