sábado, 23 de outubro de 2010

Realidade

Olhos fechados. Espero: sua boca, seu cheiro, seu cabelo no meu rosto, sua respiração no meu ouvido, sua mão na minha cintura, minha unha nas suas costas.

De olhos fechados, acontece tudo que se imagina – ou se imagina tudo que acontece?

Perto de você, toda vez que fecho os olhos, eu sonho. Mas, sonho mesmo, é abrí-los e você continuar aqui.

domingo, 3 de outubro de 2010

Verão/Outono - Ela


Verão, praia, carnaval.
Outono, aula, ela
Mistura do calor de fevereiro
com as Águas de Março
que vêm transbordando, apagando, destruindo
e depois voltam fazendo transpirar.
Porque ela inverte as estações
e eu nem música sei fazer.

sábado, 21 de agosto de 2010

Como Pode Ser?

Como pode ser
estar na velocidade e não sentir?
Como pode ser
enfrentar sem querer fugir?
Como pode ser
só de pensar, sentir?
Como pode ser
gostar, falar, estar, surgir
tão rápido que não há como não admitir?
Como pode ser
querer só pra si,
sorrir só pra ti,
imaginar te abraçar todo dia antes de dormir?

Pode ser
eu,
tem que ser
você.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fuga


Preciso fugir. Agora. Nem precisa ser pra tão longe, só quero poder sentir você comigo.

O que é uma semana, um mês, um ano, comparados a planos de uma vida inteira?

Logo eu que sempre temi pular de ponta, me joguei em queda livre, sem garantias de proteção. Aliás, se tivesse, não seria tão excitante.

As forças que tentam me prender no chão sempre existiram, e não acredito que um dia deixarão de existir. O quê elas não perceberam é que eu já tava na borda, pronta pra pular – ou transbordar – e que qualquer movimento brusco pra me prender, só me empurraria, dessa vez para o alto.

Agora têm que me ver, caindo pra cima.

Ficam olhando lá de baixo, pensando quão fundo eu cheguei, sem perceber que tô cada vez mais perto do céu.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Inspiração


Tenho uma estante ao lado da cama, com alguns livros e 2 CD’s. Nunca imaginei por que gosto de comprá-los, ganhá-los ou roubá-los.

Uma noite lendo Gabo – ou Gabriel García Marquez, para aqueles que ainda não o sentiram – foi suficiente.

Eu não tenho esses livros para mim, mas sim para os outros.

Eu só queria alguém que sentasse na minha cama numa tarde em que o Sol tirou folga e se propusesse a ouvir sobre eles, um por um, me descobrindo através de suas histórias.

Contaria sobre a moça que descobriu o mundo e demorou um livro inteiro pra perceber; sobre o cara que se sabia descobridor e se aproveitava disso; ou sobre outro que, de tanto mudar a si mesmo, descobriu o que não devia.

Depois, te falaria sobre o livro que quero escrever, o qual, dada as circunstâncias, provavelmente seria sobre você.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Fechadura


É tão difícil deixar de perceber quando se nasceu com os olhos bem cerrados. Essa particularidade seria mais útil se transferida para outras partes.

As mãos, por exemplo, tem insistido em estarem tão abertas... Deixam cair desde dinheiro, cigarros e pessoas até faltas, traumas, medos. Ao mesmo tempo, estando tão abertas, recebem coisas que não querem, ou com as quais não sabem lidar, de pessoas que não querem nem sabem lidar com o que entregam.

Os braços, já nem sabem mais para o que servem. Não conseguiram nem segurar aquele fiozinho de esperança que passou por mim ontem a noite. Andam tão abertos, que já não podem escolher. Insistem em esbarrar em todos por onde passam.

A boca? Ah, essa deveria se manter como antes, menina comportada que era. Hoje, decidiu se rebelar. Saiu experimentando todos os sabores e texturas. Uma vez aberta, deixou escapar coisas que guardara por muito tempo e, por tamanha abstinência, as saiu dizendo pra quem estivesse mais próximo, inocente de seus efeitos colaterais.

Efeitos esses, que repercutem onde mais fechado se deveria estar: no coração. Esse que, não sei por que, de uma hora pra outra, sem aviso prévio, resolveu se abrir à qualquer indício de alguém que pudesse fechá-lo por dentro.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cansei

Eu cansei. É, cansei mesmo. Todo mundo cansa, mas finge que não. Eu admito – pelo menos pra isso tenho coragem.

Cansei de tentar e dar errado, cansei de não tentar e dar errado. Cansei das coisas como são, mas também cansei de tentar mudá-las e cansei de cansar de tentar mudá-las.

Cansei das pessoas, cansei de como sempre me canso delas.

Cansei de não cansar do que deveria.

Cansei de pensar no que você fazia, em como eu agiria, se você cansasse de ter medo.

Cansei de cantar, tocar, escrever. Cansei de sair, conversar, beber. Cansei de fugir, fumar, sumir.

Cansei de ta aqui, mas tô tão cansada, que não consigo ir pra lá.