segunda-feira, 21 de junho de 2010

Fechadura


É tão difícil deixar de perceber quando se nasceu com os olhos bem cerrados. Essa particularidade seria mais útil se transferida para outras partes.

As mãos, por exemplo, tem insistido em estarem tão abertas... Deixam cair desde dinheiro, cigarros e pessoas até faltas, traumas, medos. Ao mesmo tempo, estando tão abertas, recebem coisas que não querem, ou com as quais não sabem lidar, de pessoas que não querem nem sabem lidar com o que entregam.

Os braços, já nem sabem mais para o que servem. Não conseguiram nem segurar aquele fiozinho de esperança que passou por mim ontem a noite. Andam tão abertos, que já não podem escolher. Insistem em esbarrar em todos por onde passam.

A boca? Ah, essa deveria se manter como antes, menina comportada que era. Hoje, decidiu se rebelar. Saiu experimentando todos os sabores e texturas. Uma vez aberta, deixou escapar coisas que guardara por muito tempo e, por tamanha abstinência, as saiu dizendo pra quem estivesse mais próximo, inocente de seus efeitos colaterais.

Efeitos esses, que repercutem onde mais fechado se deveria estar: no coração. Esse que, não sei por que, de uma hora pra outra, sem aviso prévio, resolveu se abrir à qualquer indício de alguém que pudesse fechá-lo por dentro.

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