- “Pense nos períodos curtos. Eles funcionam. Toda vez”.
Disparava com a frieza de quem não sabia o eco que aquilo fazia dentro de mim.
Períodos curtos foi tudo o que tivemos. E ainda é tudo que restou. De todos os
anos, nossos pedaços ainda estão largados por aí, em mim, nela, nas pessoas ao
redor. Nessa cidade que não nos deixa em paz. A fumaça do café vai esfriando
enquanto penso em como atingi-la de algum modo que a faça se sentir como eu,
enterrada viva. O sufoco que sinto me faz sentir cada vez mais morta, lutando
para conseguir qualquer lufada de ar que a traga de volta. – “Respira” – ela
diz. Respiro.
Respiro e tento mandá-la embora o mais rápido possível,
torcendo para que ela não perceba minha luta solitária. Ela ri. Ri demais. Eu
absorvo aquela claridade até desaparecer. Sumo de mim. Ela não. – “Quando é que
você vai começar esse livro? Gosto tanto dos teus textos” - Todos pra ela.
Todos malditos textos para ela - "Mais tarde" - eu digo, e escondo todo o resto.